01 setembro 2008

UM CONVIDADO ESPECIAL

Era nosso dia de casamento. Haviamos planejado este dia a muito tempo. Nada podia dar errado. Acho que você me entende. Afinal, o dia do casamento faz parte dos nossos sonhos e comigo não era diferente. A cidade de Caná, na Gallléia, é uma pequena vila na qual todo mundo se conhece. A nossa festa era esperada e muitos tinham vindo de longe para celebrar conosco este dia tão importante.

Em nossa sociedade, a família é o grupo mais importante de todos. E as famílias não são apenas compostas de pais e filhos; avós, parentes que ficaram viúvas, irmãos e irmãs que ainda não casaram e, ainda, os servos da casa, fazem parte deste núcleo base da sociedade judaica. Geralmente, o sustento era provido pelos homens. As mulheres cabiam as tarefas de administrar a casa e educar os filhos.

Nosso novo lar seria, portanto, uma nova célula que iria crescer e se desenvolver. Meu noivo tinhá sido escolhido pelos meus pais. Nós já nos conhecíamos, afinal, morávamos numa vila pequena, mas nosso casamento foi um acordo entre a família dele e a minha. Assim, havia uma garantia de que o casamento iria ser bem-sucedido dentro das regras e costumes de nosso tempo. O amor? Bem, até aquele dia, eu ainda não conhecia meu futuro marido muito bem, por isso não havia garantias de que realmente nos amaríamos. Mas tínhamos como propósito formar uma família. Queríamos preservar a união e tínhamos certeza que os dois iriam lutar para chegarmos a um bom termo. Hoje, 20 anos mais tarde, posso dizer que o amor nasceu, cresceu e permaneceu em nosso lar.

Meu então futuro marido vinha de uma família simples. O pai, os irmãos e ele também eram artesãos que trabalbavam no ramo da cerâmica. Faziam potes, pratos e outros artefatos que eram usados no lar, mas também vendidos na feira de cidade para o sustento da família. Meu sogro tinha dado algumas ferramentas e uma roda de oleiro para meu marido para que assim pudesse começar seu próprio negócio.

M e s m o sendo de uma família que não era rica, a festa de casamento tinha de ser muito bem preparada e, de pref erência, com alguma ostentação. Estávamos noivos há um ano e durante este tempo a família tinha se dedicado a juntar dinheiro, utensílios e mantimentos para a festa. Meu sogro tinha até emprestado dinheiro para poder fazer o melhor para o casamento do filho. Como eu disse há pouco nada podia dar errado. Mas o pior é que deu!

Os convidados eram muitos, os dias da festa iam correndo — esqueci de dizer que ela iria durar três dias — e o vinho, parte tão importante de nossa cultura estava acabando. Meu cunhado, irmão mais velho de meu marido, estava administrando o estoque de vinho e já tinha, como era de praxe quando os convidados são muitos e a festa dura há vários dias, acrescentado água nas vasilhas tornando o vinho mais ralo e menos alcoólico. No terceiro dia, no entanto, ainda de tarde, o vinho estava no fim. Não era possível por mais água sem que os convidados percebessem o engodo. Para a família do meu sogro e também para a nossa que estava iniciando, uma festa sem vinho significava desonra, despreparo e falta de consideração. O que fazer?

Entre os convidados estava um homem que naquele tempo pouco conhecíamos. Hoje o nome dele, Jesus, faz parte de nossa História e de noso destino como nação judaica; mas isto é assunto para outra vez. Naquele dia, poucos sabiam quem ele era ou seria. Parece que a Maria, filha de Eli, esposa de José e mãe de Jesus, compreendia um pouco mais sobre seu poder, mas para nós outros era uma incógnita. Para encurtar a História, a Maria ficou sabendo do nosso aperto e foi falar com Jesus. E Ele, de uma forma tão simples, mandou encher as talhas de água e quando chegaram às mesas tinham se transformado em vinho.

Já pensei muitas vezes naquele dia e no que aconteceu. Não consigo explicar é claro, mas para nós foi a salvação. A honra da família, e até nosso casamento, estava salvo. A partir daquele dia, Jesus se tornou nosso amigo. Sempre que podíamos íamos ouvi-lo quando ele estava por perto e tivemos o privilégio de recebê-lo em nossa casa.

Vinte anos se passaram. Aquela festa foi o começo de nossas vidas. Mas, pelo que tenho entendido, foi também o começo de algo ainda maior. Soube que aquele milagre foi o primeiro que Jesus fizera; que a partir daquele dia sua vida também mudara e que não teria mais sossego, nem tranqüilidade. Ouvimos, três anos mais tarde, que fora crucificado em Jerusalém. Soubemos também de sua ressurreição e hoje fazemos parte daqueles que seguem seu ensino.

Continuo, no entanto, a pensar. Por que ele veio à festa? Por que ele se importou com nosso drama tão pequeno e familiar? Se o projeto dele era morrer para se tornar o Salvador do mundo, por que se envolver com uma questão tão pequena? Mas esse era Jesus. Não havia ninguém que não era alvo de seu amor, ninguém que não recebesse sua compaixão, nenhuma necessidade tão insignificante que não ocupasse seu pensamento.

O mais curioso de tudo é que aquele vinho que ele fez era da melhor qualidade. O vinho de primeira que meu sogro comprara e servira no primeiro dia da festa não se comparava ao que estava nas talhas que Jesus mandara por água. De certa forma, este vinho se tornou algo como um símbolo para a nossa união. Em vez do bom vinho no começo e do pior no fim, o vinho só fica melhor a cada dia, a cada ano. Nosso casamento, nosso amor e nossa –familia também têm sido assim. Não sou mais uma bela jovem, nem meu marido é o rapaz vigoroso de 20 anos atrás. Tivemos sete filhos e é claro que, como em toda família, aconteceram momentos de dificuldades e até desavenças. Mas o vinho é cada vez melhor. Parece que o Mestre continua enchendo nossas talhas de água e, toda vez, ele faz um vinho melhor do que o anterior. Este convidado em nosso casamento era realmente especial...


Pr. Leif Ekstrõm

Publicado no Jornal Luz nas Trevas

Edição 892- Agosto/2008

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